Em Mama 2 (2025), o diretor Guillermo del Toro retorna ao universo assombroso do primeiro filme, explorando com maestria o limiar entre o sobrenatural e as emoções humanas mais profundas. A história se passa cinco anos após os eventos de Mama, quando a pequena Victoria (interpretada agora por Emma Laird, substituindo a jovem original) ainda carrega cicatrizes emocionais do vínculo com a entidade materna transformada em espectro. Ao lado dela, conhecemos Noah (o talentoso Finn Cole), um adolescente marcado pela tragédia de ter perdido a família em um incêndio misterioso. A dinâmica entre ambos cria o alicerce afetivo que sustenta o terror e a poesia do roteiro, assinado por Del Toro em parceria com Kim Morgan. A atmosfera sombria é construída desde a fotografia de Dan Laustsen, que abusa de sombras profundas entrelaçadas a tons sutilmente azulados, sugerindo tanto o frio quanto a melancolia que permeiam a narrativa.

A trama se desenvolve em três atos bem delineados. No primeiro, somos apresentados à nova família adotiva de Victoria: um casal de irmãos adultos, Claire (Amy Adams) e James (Chris Pine), que lutam para oferecer à garota um lar amoroso após a experiência traumática. A convivência neste ambiente aparentemente seguro logo se mostra frágil quando pequenos acontecimentos — portas que rangem sozinhas, sussurros no corredor, brinquedos movendo-se — apontam para a presença de “Mama”, a figura espectral que não aceita ser esquecida. O terror, apesar de explícito em certas sequências (como o espelho que exibe mãos que se estendem de dentro para fora), brilha sobretudo nos gestos quase imperceptíveis: um olhar preso na escuridão, uma respiração pesada que ecoa num quarto vazio.

No segundo ato, o enredo mergulha no passado de Mama, revelado através de flashbacks oníricos e dolorosos. Descobrimos que ela fora uma protetora compulsiva, presa entre a vida e a morte após sacrificar-se para salvar Victoria de um acidente. Esses vislumbres históricos enriquecem a vilania maternal da criatura, construída não por maldade pura, mas por um amor distorcido e possessivo. A interpretação de Javier Botet como Mama é sencional: seus contorcionismos etéreos e a pele translúcida capturam um horror quase tangível, capaz de gelar até o espectador mais cético. A trilha sonora de Alexandre Desplat, ao mesclar temas melódicos e dissonantes, intensifica essa ambiguidade entre compaixão e terror.

O clímax em Mama 2 é um tour de force de horror emocional. Quando Victoria, dividida entre o carinho que sente por Claire e o vínculo fatal com Mama, decide libertar o espírito, somos conduzidos a uma sequência onírica subaquática, onde memórias e medos se entrelaçam em uma dança hipnótica. A cena, coreografada com detalhes impressionantes — como bolhas luminiscentes que revelam fragmentos de infância — é ao mesmo tempo bela e angustiante, simbolizando o renascimento de Victoria ao aceitar que o passado não pode ser revivido, apenas honrado.
O último ato fecha arcos de maneiras surpreendentes. Enquanto Claire faz um sacrifício comovente para desfazer a maldição, o filme dá espaço a uma reviravolta que questiona o real significado de “família”: será que a verdadeira casa está em pessoas físicas ou nas memórias que guardamos? Esse desfecho, aberto e poético, reforça o talento de Del Toro para misturar horror e humanidade.

O elenco entrega performances memoráveis. Amy Adams transmite com autenticidade a exaustão de quem luta para equilibrar amor e medo, enquanto Emma Laird encarna de forma tocante a inocência ferida de Victoria. Finn Cole adiciona camadas de culpa e redenção em seu Noah, criando uma amizade improvável com a garota que emociona sem cair no sentimentalismo barato. Até mesmo os papéis coadjuvantes — como a vizinha vidente, interpretada por Tilda Swinton em participação especial — acrescentam textura ao universo do filme.
Tecnicamente, Mama 2 é primoroso. A direção de arte recria uma mansão vitoriana decadente, repleta de corredores labirínticos e retratos antigos que parecem observar o público. A maquiagem e os efeitos visuais dão vida a Mama de forma crível, evitando o CGI exagerado. A edição alterna ritmo lento e explosões repentinas de medo, mantendo o espectador em constante tensão.
Em suma, Mama 2 (2025) eleva o terror a um patamar quase poético, explorando o amor materno retorcido e a resiliência infantil. É um filme que não se contenta em assustar, mas provoca reflexões sobre perda, aceitação e o poder das memórias. Para quem busca uma experiência cinematográfica que una arrepios e emoção genuína, esta sequência é um espetáculo imperdível.